A GENIALIDADE DE A CABANA
Quinta-feira, 6 abril é o estreio no Brasil do filme tão esperado A cabana. Por ocasião deste evento, eis um ótimo artigo do teólogo e autor do livro "De volta à cabana", C. Baxter Kruger:
Traduzido por Willy Torresin de Oliveira
Faz quase dez anos que Paul Young se esgueirou por detrás de nossos dragões vigilantes, como C.S. Lewis os chamaria, e escandalizou nossas almas com esperança, controvérsia e risco. A Cabana nunca foi intencionada para ser um livro real. Foi escrito como uma história para os filhos de Paul.
Eu creio que este fato é muito importante para explicar o quase inacreditável apelo e alcance da história. Na superfície, a simplicidade e o encanto de A Cabana derivam do fato de Paul estar falando com seus filhos. Nunca lhe passou pela cabeça que seria publicado ou mesmo lido por mais de um punhado de pessoas. Hoje A Cabana é um best-seller internacional, e com mais de 22 milhões de cópias vendidas é um dos livros mais vendidos de toda a história, em breve a ser lançado em todo o mundo nas telas dos cinemas. Todos os dias, Paul ri daquilo que ele chama de a "piada do Papai".
Em um nível mais profundo, o poder e a esperança convincentes do livro fluem do próprio trauma e cura experimentados por Paul. Sua vida pessoal havia desmoronado em fracasso, e ele havia chegado em um lugar onde estava reduzido, como ele mesmo diz, "a um pedaço de esterco ressecado, aterrorizado de que a menor brisa iria me explodir para sempre." É uma coisa decepcionar a si mesmo e tentar viver com tal decepção; é outra totalmente diferente ser uma decepção. Não há onde se esconder de tal tormento emocional. Para onde você vai encontrar alívio quando seu próprio coração zomba de você em desprezo, e sua alma se contorce em vergonha? Paul planejou seu suicídio, até os pequenos detalhes de onde e como faria, de forma que seu corpo não fosse encontrado pela família. Mas algo aconteceu quando ele estava dominado pelo auto-desprezo na beira do abismo do vazio existencial, algo espantoso, algo real, algo muito bonito para palavras. A Cabana trata disso.
No livro, Mackenzie Allen Phillips, enquanto salva seu filho de afogamento, perde sua filha mais nova, Missy. Sequestrada por um “serial-killer”, ela é brutalizada antes de ser assassinada em um barraco abandonado. Nos anos seguintes, a sensação constante de impotência, fracasso e culpa transfiguram o mundo interior de Mack em cegueira, raiva e tristeza constantes. É então que uma nota aparece em sua caixa de correio – supostamente de Deus.
Mackenzie,
Faz algum tempo. Eu tenho saudade de você. Eu estarei no barraco no próximo fim de semana, caso você queira se encontrar comigo. ” - Papa
Mackenzie não tem a menor idéia do que fazer. Enfrentando os mares de sua dor e certamente o medo de que tenho perdido sua sanidade, ele decide tomar o caminho de volta até o barraco, a própria fonte de sua dor. Mas Deus não aparece ao encontro; pelo menos não o Deus da imaginação de Mackenzie.
A raiva enterrada de Mack explode, enquanto ele esmaga uma cadeira velha e golpeia o chão do barraco com um dos pedaços da cadeira. Finalmente, ele se levanta, cerra o punho contra Deus, e grita: "Eu odeio você!"
É importante observar que é somente depois que sua raiva explode e que ele finalmente cerra os punhos com fúria que as coisas mudam. A neve derrete; as flores da primavera aparecem. O barraco em ruínas se transforma em um chalé cuidadosamente construído. Só então Mackenzie ouve as risadas vindo do lado de dentro. Intrigado, Mack decide voltar à cabana. Ele levanta o punho novamente, desta vez para bater à porta, mas, antes que o faça, ela é aberta totalmente, e ele se vê cara a cara com uma pessoa de aspecto inesperado, cujo sorriso irradia um amor sobrenatural. Antes que ele possa até mesmo reagir, ela o envolve com um abraço tão largo quanto o universo, levanta-o do chão, girando-o ao redor enquanto ela grita seu nome com afeto surpreendente: "Mackenzie Allen Phillips, como eu te amo!"
Algo muito parecido com esse momento aconteceu a Paul Young dentro de sua própria vergonha. É por isso que esta cena e o livro em si tem esse peso. Paul não está simplesmente escrevendo uma boa história. Ele não está teorizando ou tentando convencer as pessoas a concordar com uma posição religiosa. Ele está escrevendo para os seus filhos a partir de sua própria experiência profunda para que eles possam conhecer o Deus de carinho incansável que apareceu no meio do seu inferno. (Você já notou que as iniciais de Mackenzie formam a palavra MAP?) (mapa)
Mas então a história foi publicada e, como todas as boas histórias espalhadas pela terra, deixando atrás de si um rastro de libertação e vida e, por vezes, controvérsia acalorada. Quando Papai passa pela porta e abraça um Mackenzie quebrantado em a sua grande tristeza, Paul está pondo o dedo no anseio da alma humana e nos jogando a todos em uma grande crise ao mesmo tempo. Quem não quer ouvir Deus, o Pai, gritando nosso nome e dizendo: "como eu te amo!" ou, "Eu especialmente gosto de você"? Quem não quer se assentar para comer à sua mesa com Jesus e Sarayu (o Espírito Santo) e ser ouvido e aceito? No entanto, poucos de nós conseguimos acreditar seriamente que Deus é tão bom assim, especialmente para nós em nossa situação de quebrantamento. Ansiamos ser Mackenzie nos braços de Papai, mas temos feridas e sombras demais, muita experiência de tragédia e muitas idéias contraditórias acerca de Deus. Além disso, abrir nossos corações a tal relacionamento e cuidado nos coloca em risco de uma decepção brutal. E se tudo isso não passar de uma farsa? Onde isso nos deixaria?
Paul não teve a intenção de lançar um desafio em larga escala do Cristianismo Ocidental. Ele pretendia ajudar seus filhos a enxergar através e além da visão desastrosa de Deus que ele próprio tinha sido ensinado, e ajudá-los a ver por meio de uma história que Deus é Amor, amor verdadeiro, todo o tempo, para sempre, nos encontrando a todos nós no poço de nossa autodestruição. Mas, à medida que o livro foi sendo lido em uma vasta área, o mesmo despertou uma crise para muitos, ao mesmo tempo em que liberava milhões que experimentavam, na sua leitura, o mesmo encontro com o Pai como Paul na vida real e Mack na história. Alguns ficaram furiosos com a atrevida apresentação do evangelho feita por Paul, acusando-o de heresia, universalismo, até modalismo, entre outras coisas. Quando li A Cabana, pensei na igreja primitiva e em Santo Atanásio, que escreveu no quarto século: "O Deus de todos é bom e supremamente nobre por natureza, portanto, Ele é o amante da raça humana".
A cena memorável do abraço de Papai e em seguida, o abraço igualmente poderoso de Sarayu (o Espírito Santo) ao encontrar Mackenzie no jardim, (que é, de fato, sua alma e a bagunça pecaminosa que Mack fez de si mesmo), produz em todas as pessoas quebradas uma esperança assombrosa. O mesmo fato levanta bandeiras vermelhas para outros. Para mim, essas cenas trazem à luz duas visões irreconciliáveis de Deus que habitam a mente ocidental. A primeira é a visão de um “omni-ser” sem rosto, sem nome, inacessível, que nos observa como um falcão da infinita distância de um coração desaprovador. Este Deus está zangado, ansioso para encontrar culpa, é descompromissado, arbitrário e incapaz de amar. Este é o Deus de Mackenzie, o Deus de nossas imaginações caídas, e para muitos de nós, é o Deus que fomos ensinados pelas Escrituras. No entanto, quem quer ser abraçado por este Deus? Será que alguém de fato quer ir para o céu deste Deus, ou ouvi-lo gritar seu nome? A segunda visão é expressa no Papai de Paul Young, excepcionalmente personificado no filme por Octavia Spencer. Este Papa / Papai ama Mack e todos nós com o mesmo amor que ela ama Jesus e Sarayu, sempre bom o tempo todo, gracioso, rápido em perdoar, ansioso para abençoar e ferozmente oposto a tudo que nos impede de estar vivos. Esta é a visão que a igreja antiga tinha da Trindade abençoada.
Em ambas as visões, ninguém vai se safar de nada, mas por razões completamente diferentes. O primeiro Deus está inclinado a punir todo pecado no universo, sobrevivendo alguém ou não. O outro está firmemente determinado que todos sejam libertos até da menor sugestão do mal e da vergonha. A ideia central de Paul para seus filhos é que o Deus mal-humorado e enojado não é real e nem capaz de nos ajudar em nossa escuridão. Para experimentar cura, Mackenzie tem que enfrentar o fato de que sua visão de Deus estava errada e abandoná-la.
A genialidade de A Cabana é que o abraço e o amor de Papai experimentados por Mackenzie despertam nosso anseio de encontrar nosso “lar” naquele círculo, e este anseio se expressa em diferentes níveis ao mesmo tempo. Primeiramente, ele enfrenta nossa herança religiosa cara a cara, lhe perguntando por que não levou a este tipo de vida? É uma pergunta simples, mas que está carregado de paixão. Independentemente do que nossos sistemas religiosos tenham nos oferecido, a maioria de nós não experimentou o que Mackenzie, ou Paul, experimentaram. Se o Deus que Young descobriu em seu pecado e autodesprezo é real – o Deus encarnado no amor surpreendente e afeto curador de Papai – então, como Mackenzie, nossa visão nos enganou, talvez de forma muito profunda. Quem está disposto a enfrentar esse fato e descer ao sério trabalho de reforma? Me parece que a maior questão espiritual de nossos tempos não é mais quem é capaz de apresentar o melhor argumento teológico com mais provas textuais, mas sim quem é capaz de nos levar a experimentar a vida abundante que Jesus prometeu. A jornada de Mackenzie, e por trás dele, a própria vida de Paul, falam diretamente sobre essa mudança. A Cabana aborda o coração humano repleto de dor desconcertante e do anseio pela notícia de que nossas vidas podem ser muito diferentes. Será que nosso anseio, tocado pela cura de Mackenzie, não exige uma compreensão da verdade que nos leve à experiência da vida autêntica e, de fato, abundante?
Em segundo lugar, nosso anseio nos faz uma pergunta profundamente pessoal. Estamos prontos a correr o risco de nos abrir para o relacionamento? Um retorno à visão teológica da Igreja primitiva certamente ajudará nosso modo de ver, mas não se nossos corações estiverem fechados. O Deus da Cabana não vai acenar uma varinha mágica e tornar tudo melhor e mais bonito. Este Deus ama incansavelmente, e nos encontra em nosso trauma, e nos chama a participar em nossa cura. Este é um relacionamento verdadeiro. Estaremos dispostos a nos permitir ser conhecidos e amados no abraço do afeto desconcertante de Papai? Mackenzie não teve apenas que mudar suas noções fundamentais acerca de Deus, ele também teve que confiar no Deus que o encontrou perdido em sua dor.
Com a continuação da divulgação do livro, e agora com o lançamento do filme, que é em boa parte fiel à história do livro, os desafios religiosos e pessoais não vão embora. Graças a Deus por isso! Assim como Lutero involuntariamente começou uma revolução quando ele pregou suas teses na porta da igreja de Wittenberg, Paul Young pode muito bem ter feito o mesmo quando ele escreveu uma pequena história para seus filhos. Vamos ver o que vai acontecer.
C. Baxter Kruger, Ph.D., autor do bestseller internacional, “De Volta à Cabana”, e “Patmos”.
"O LIVRO EU LÍ E ESTOU ANSIOSO PARA ASSISTIR O FILME, REALMENTE É UMA HISTÓRIA INSPIRADORA."
POSTADO POR: LUCIANO MELO - 17/04/2017
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