O que é “ideologia de gênero”?
Controverso conceito sexual passou a ser mais debatido com a elaboração dos planos de educação, mas ainda gera muitas dúvidas...
Depois de surgir com destaque em 2014 nos debates envolvendo a elaboração do Plano Nacional de Educação (PNE), o termo “gênero” voltou aos holofotes no Brasil. Políticos, pesquisadores, organizações da sociedade civil e cidadãos comuns têm se mobilizado para que o termo não conste nos novos planos municipais e estaduais de educação que devem ser votados até o fim do mês de junho. As razões para a preocupação, no entanto, ainda parecem desconhecidas de grande parte da opinião pública. Por que uma palavra aparentemente inofensiva passou a receber tanta resistência?
Uma das maiores dificuldades para esclarecer o assunto está nos múltiplos significados que o termo “gênero” pode receber, inclusive dentro de um mesmo contexto. No senso comum gênero é apenas um sinônimo mais polido para sexo, no sentido de diferenciação entre masculino e feminino, ou homem e mulher. Para uma corrente do feminismo, no entanto, o significado é bastante diferente.
Para explicar melhor o assunto e tornar a questão mais conhecida, críticos deram o nome “ideologia de gênero” a esse conjunto de ideias. O registro mais antigo que se tem da expressão está na obra “ Who Stole Feminism?” (em Português, Quem roubou o feminismo?) , de 1994, escrita pela norte-americana Christina Hoff Sommers, doutora em Filosofia que se considera uma “feminista da equidade”, mas não uma “feminista de gênero”.
Conceito
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Teóricos da “ideologia de gênero” afirmam que ninguém nasce homem ou mulher, mas que cada indivíduo deve construir sua própria identidade, isto é, seu gênero, ao longo da vida. “Homem” e “mulher”, portanto, seriam apenas papéis sociais flexíveis, que cada um representaria como e quando quisesse, independentemente do que a biologia determine como tendências masculinas e femininas.
Diferentemente do feminismo clássico, os militantes dessa linha não querem apenas direitos e oportunidades iguais para homens e mulheres. Para alguns de seus expoentes, a própria divisão do mundo entre homens e mulheres é um mal a ser combatido. Assim diz Shulamith Firestone, em seu livro The Dialectic of Sex (A dialética do sexo), de 1970: “A meta definitiva da revolução feminista deve ser igualmente – ao contrário do primeiro movimento feminista – não apenas acabar com o privilégio masculino, mas também com a própria diferença de sexos. As diferenças genitais entre os seres humanos já não importariam culturalmente.”
Outra referência acadêmica a cunhar o termo “gênero” foi a feminista Judith Butler. Em seu livro Gender Trouble: Feminism and the Subversion of Identity (Questão de gênero: o feminismo e a subversão da identidade), ela afirma que “o gênero é uma construção cultural; por isso não é nem resultado causal do sexo, nem tão aparentemente fixo como o sexo”. Na mesma obra, Butler ainda defende que “homem e masculino poderiam significar tanto um corpo feminino como um masculino; mulher e feminino tanto um corpo masculino como um feminino”.
Conflito com neurociências levou à crise de credibilidade
Em 2011, um documentário transmitido em rede nacional na Noruega abalou a credibilidade dos teóricos de gênero nos países escandinavos. O Conselho Nórdico de Ministros (que inclui autoridades da Suécia, Noruega, Dinamarca, Finlândia e Islândia) ordenou a suspensão dos financiamentos dirigidos ao Instituto Nórdico de Gênero, promotor de ideias ligadas às teorias de gênero, depois da exibição, em 2010, do filme “ Hjernevask”(“Lavagem Cerebral”), que questionava os fundamentos científicos dessa linha de pesquisa. O documentário gerou um intenso debate público sobre o assunto no país.
Em 2011, um documentário transmitido em rede nacional na Noruega abalou a credibilidade dos teóricos de gênero nos países escandinavos. O Conselho Nórdico de Ministros (que inclui autoridades da Suécia, Noruega, Dinamarca, Finlândia e Islândia) ordenou a suspensão dos financiamentos dirigidos ao Instituto Nórdico de Gênero, promotor de ideias ligadas às teorias de gênero, depois da exibição, em 2010, do filme “ Hjernevask”(“Lavagem Cerebral”), que questionava os fundamentos científicos dessa linha de pesquisa. O documentário gerou um intenso debate público sobre o assunto no país.
A produção do sociólogo e ator Harald Eia contrapõe a afirmação dos defensores da teoria de gênero com outras de estudiosos ligados às neurociências e à psicologia evolutiva. Enquanto os teóricos do gênero afirmam que não há fundamento biológico nas diferenças de comportamento entre homens e mulheres, tratando-se apenas de construções sociais, os outros cientistas mostram resultados de seus testes empíricos que constatam diferenças inatas nas preferências e comportamentos de homens e mulheres.
Os estudiosos das neurociências, contudo, admitem que, mesmo que os genes sejam determinantes para algumas condutas, a cultura influencia. Já os teóricos do gênero afirmam que “não veem verdade alguma” nas pesquisas dos neurocientistas, embora toda a base dos estudos de gênero seja teórica e não empírica.
No vídeo, a filósofa do gênero Catherine Egeland, uma das entrevistadas, diz que “não se interessa nem um pouco” por esse tipo de ciência, e que “é espantoso como as pessoas se interessam em pesquisar essas diferenças”. Assista ao documentário no YouTube:
Confusão em torno do termo começou há vinte anos, na ONU
Estudiosos afirmam que a expansão da ideologia de gênero teve início na Conferência sobre as Mulheres, realizada em Pequim, em 1995. A jornalista norte-americana e participante da conferência Dale O’Leary diz em seu livro The Gender Agenda (ou algo como a Discussão do Gênero), de 1997, que o evento resultou em orientações para que governos de todo o mundo incorporassem a “perspectiva de gênero” em todo programa e em toda a política, em cada instituição pública e privada.
Estudiosos afirmam que a expansão da ideologia de gênero teve início na Conferência sobre as Mulheres, realizada em Pequim, em 1995. A jornalista norte-americana e participante da conferência Dale O’Leary diz em seu livro The Gender Agenda (ou algo como a Discussão do Gênero), de 1997, que o evento resultou em orientações para que governos de todo o mundo incorporassem a “perspectiva de gênero” em todo programa e em toda a política, em cada instituição pública e privada.
Em sua crítica, Dale lamenta que uma decisão com esse alcance tenha se dado sem a prudência de se explicar às pessoas a natureza dessa agenda, e afirma que essa discrição foi proposital. “A Agenda de Gênero navega nas comunidades não como um navio elevado, mas como um submarino, determinado em revelar-se tão pouco quanto possível”, diz a escritora.
No artigo “ Perspectiva de género: sus peligros y alcances” de Jutta Burggraf, doutora em Pedagogia da Universidade de Navarra, Espanha, são relatados detalhes do evento. A cúpula da conferência teria emitido a seguinte definição: “O gênero se refere às relações entre mulheres e homens baseadas em papéis definidos socialmente que se refiram a um ou outro sexo”.
Segundo Jutta, na ocasião, muitos delegados ficaram confusos com o conceito, sugeriram a substituição pelo termo “sexo” e receberam a seguinte explicação da feminista e ex-congressista norte-americana Bella Abzug. “O sentido do termo ‘gênero’ evoluiu, diferenciando-se da palavra ‘sexo’ para expressar a realidade de que a situação e os papéis da mulher e do homem são construções sociais sujeitas à mudança”. Os documentos conclusivos da conferência de Pequim acabaram por assimilar o termo.
"SÓ ACHO QUE SOBRAL TEM TANTAS COISAS QUE DEVERIAM TER COMO PRIORIDADE, PARA NOSSO GESTOR E NOSSA CÂMARA SE OCUPAR COM ESTE ASSUNTO, QUE NA MINHA OPINIÃO NÃO DEVERIA NEM SER COGITADO PARA A GRADE ESCOLAR DE SOBRAL, MAS NOSSO PREFEITO ADORA UMA POLÊMICA."
POSTADO POR: LUCIANO MELO - 20/02/2018
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