Bruna Calderari, em foto de cerca de dez anos atrás
Bruna Calderari, 35, foi a única das quatro vítimas que demorou a ser identificada após a chacina da semana passada no Tremembé, na zona norte de São Paulo. Ela estava sem o RG, já que o documento ficava com a sua família desde que ela perdeu a primeira via em uma das temporadas que passou nas ruas por causa do vício nas drogas.
O cuidado dos parentes incluía a orientação para que sempre andasse com uma cópia do RG no bolso, o que não fez na madrugada de quinta-feira (9), quando foi atingida pelos disparos. Como era conhecida no bairro, já que estava sempre pelas ruas, acabou identificada apenas com o primeiro nome no boletim de ocorrência da polícia.
Mario Angelo/Sigmapress/FolhapressPoliciais na cena da chacina na zona norte de SP onde morreu Bruna Calderari, 35
Há cerca de dois anos, Bruna havia se mudado para a casa do namorado, que vive com a mãe idosa em uma viela próxima ao local onde ela e outras três pessoas morreram. Era lá que Bruna deixava suas roupas e as plantas que gostava de cuidar, como um pé de tomate. A vizinhança se revezava para atender aos seus pedidos por comida.
Um dia antes da chacina, ela bateu na porta de uma vizinha porque estava com vontade de tomar um café com leite e comer um pão com ovo frito. "Ela chegou com as mãos no rosto e disse que estava com esse desejo", disse a vizinha, que se identificou apenas como Marlene.
Nascida em uma família de classe média, Bruna saiu de casa há cerca de dois anos por causa da dependência química que vinha se agravando desde a adolescência.
Para tentar se afastar das drogas, alguns anos antes, já havia saído de São Paulo para morar com um namorado no Rio Grande do Sul, onde passara em um vestibular para faculdade de direito. Mas, com saudades de casa, pouco mais de um ano depois pediu aos pais para voltar a morar com eles na casa da família, também no Tremembé. Ela transferiu o curso para a FMU e chegou a frequentar as aulas por alguns meses.
FUGA DE CASA
Por causa da dependência química, a convivência com a família foi se tornando cada vez mais difícil, e Bruna saiu definitivamente de casa. Apesar disso, ela manteve contato com os parentes e, alguns meses atrás, aceitou ajuda para se internar em uma clínica de desintoxicação. No dia marcado, porém, sumiu e só apareceu semanas depois. Na volta, ela disse que estava em um centro de tratamento.
Ela visitava a família com frequência e teve apoio para se livrar do vício nas cinco internações pelas quais passou.
Apesar de alternar temporadas de rotina caseira no endereço do namorado com a rotina nas ruas –chegou a ficar 17 dias sem aparecer–, ela era próxima dos pais. Mostrava preocupação e fazia questão de estar por perto.
O afeto era dedicado também à mãe do namorado, a quem chamava de "mainha", e não desgrudava do vira-lata da sogra. Sua cachorra de estimação havia morrido há pouco, e Bruna buscava suprir a falta que sentia do bicho.
Na noite em que saiu para encontrar os amigos na rua de baixo, como costumava fazer, Bruna estava feliz. Mais tarde, de madrugada, insistiu com o namorado para dar uma volta, mas, como estava cansado, ele preferiu ficar em casa dormindo.
Bruna então passou pelas vielas próximas à favela colada ao Cemitério do Horto Florestal e parou para conversar com conhecidos na calçada. Fazia cerca de meia hora que Bruna havia saído de casa, quando um carro branco passou pela rua. De acordo com testemunhas, o mesmo veículo voltou algum tempo depois, e desconhecidos atiraram contra o grupo.
Bruna foi atingida por três tiros, e o fatal acertou sua mandíbula esquerda. Outros três homens foram mortos, todos moradores da favela. Apenas um tinha passagem na polícia, acusado de roubo, segundo a Polícia Civil. Ao ouvir os tiros, seu namorado ainda correu para constatar que Bruna não estava entre as vítimas, mas se desesperou ao vê-la sem vida na calçada da rua Gabriel Martins.
O endereço no alto de um morro, segundo descrito no registro policial, é conhecido por abrigar um ponto de venda de drogas. Porém, nenhuma substância proibida foi encontrada no local do crime. A Polícia Civil investiga a chacina. No local, foram encontrados dois estojos de munição de calibre.40, o mesmo usado por forças policiais. Esse tipo de arma não pode ser comprado pela população, mas é utilizado pela polícia de São Paulo e pode ser adquirido por colecionadores e algumas categorias profissionais.
MÁS COMPANHIAS
Os primeiros contatos com as drogas teriam ocorrido durante o ensino médio, concluído no colégio particular Marista Arquidiocesano, na Vila Mariana, na zona oeste. Era usuária de cocaína e crack e relatou sua escalada no vício em uma carta que escreveu pouco tempo atrás para a filha da vizinha Marlene.
Preocupada com o comportamento rebelde da filha, ela pediu a Bruna que contasse sua experiência com as drogas para evitar que a garota seguisse o mesmo caminho.
Marlene lembra que se emocionou com o capricho com que Bruna se dedicou à carta. Ela relatou que a dependência se agravou aos poucos e alertou sobre a tática à qual sucumbiu: 1) acesso fácil a drogas de graça; 2) vício consolidado, e o custo das drogas, agora pagas; 3) dívida quase impossível de ser paga.
Fonte: Mariana Zylberkan
"INFELIZMENTE É UM CAMINHO PERIGOSO QUE MUITO DOS NOSSOS JOVENS RESOLVERAM TRILHAR, NÓS PAIS TEMOS QUE FICAR MUITO ATENTO AOS NOSSOS FILHOS E ÀS SUAS COMPANHIAS."
POSTADO POR: LUCIANO MELO
14/11/2017
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