SUZANO (Reuters) - Dois jovens encapuzados mataram sete pessoas em uma escola em Suzano, na Grande São Paulo, e posteriormente se mataram ao se deparar com a polícia, informaram autoridades nesta quarta-feira, acrescentando que os assassinos eram ex-alunos da instituição e ainda mataram uma outra pessoas mais cedo.
No episódio, a segunda tragédia com múltiplos mortos por armas de fogo em três meses no Estado e que intensificou o debate entre críticos e defensores do porte de armas, os criminosos usaram um revólver calibre 38, uma besta, um arco e flecha e uma machadinha, segundo a polícia.
Duas das vítimas morreram já no hospital.
Uma fonte policial com conhecimento das investigações, disse que as apurações indicam que os dois jovens, um de 17 e o outro de 25 anos, planejavam o ataque há um ano e meio e tinham a intenção de chamar mais atenção do que o massacre na escola de Columbine, nos Estados Unidos, no qual 15 pessoas foram mortas em 1999, incluindo os dois assassinos.
O secretário de Segurança Pública de São Paulo, general João Camilo Pires de Campos, disse que os assassinos primeiro balearam o dono de uma locadora de carros, que era tio de um dos criminosos, e roubaram um veículo. Depois, foram à escola e, após entrarem pela porta da frente, dispararam contra a coordenadora pedagógica do colégio e outra funcionária, além de cinco alunos.
Não está claro como os dois assassinos morreram, se um deles matou o outro e depois suicidou-se, ou se um deles suicidou-se primeiro e, na sequência, o outro pegou a arma e também se matou.
O secretário de Educação de São Paulo, Rossieli Soares, disse que o autor mais jovem do massacre, que deixou a escola alvo do ataque no ano passado, chegou ao local dizendo que iria à secretaria para retomar os estudos.
Inicialmente a Polícia Militar havia informado que seis alunos foram mortos no massacre, mas a informação foi retificada pelo secretário.
"Esse dia de hoje é um dos dias mais tristes da minha vida. Lamentavelmente duas pessoas --um maior de idade e um menor de idade--, antigos alunos deste colégio, fizeram uma ação preliminar em uma locadora onde atiraram em um senhor... roubaram um Onyx branco e seguiram para esta escola", disse o secretário.
A polícia investiga agora as motivações dos autores do massacre. Foram feitas buscas nas casas dos assassinos e cerca de 20 pessoas já foram ouvidos pela polícia. A fonte com conhecimento das investigações disse que o dono da locadora pode ter sido morto como queima de arquivo, pois teria conhecimento de que os jovens planejavam o ataque.
Segundo informações do governo de São Paulo, outras 11 pessoas feridas estavam hospitalizadas.
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), visitou o local do massacre pela manhã e decretou luto oficial de três dias no Estado.
"É a cena mais triste que já assisti em toda minha vida, e fico muito triste que um fato como esse ocorra em nosso país e aqui em São Paulo", disse Doria a jornalistas no pátio da escola.
O massacre também deixou chocados os moradores que vivem nos arredores da escola.
"Eu cresci ali, estudei ali minha vida toda. Tem uma parte de mim ali, uma parte da minha história", disse o publicitário Igor Ribeiro, de 42 anos, que mora na lateral da escola Raul Brasil.
"Estava sentado aqui na varanda lendo e ouvi os estouros. Até pensei que fosse bombinha, mas logo vi as viaturas e a correria. Fui correndo e cheguei junto com as viaturas e logo já vi os corpos na entrada, muito sangue no chão, tinham três corpos. Os alunos ainda estavam saindo desesperados", disse.
Em dezembro do ano passado, um atirador abriu fogo na Catedral Metropolitana de Campinas (SP), matando cinco pessoas no total. O atirador se suicidou após os disparos.
Já em abril de 2011, um homem armado invadiu uma escola no Rio de Janeiro e disparou contra estudantes, matando 12 alunos antes de ser atingido pela polícia e cometer suicídio.
SOLIDARIEDADE
O episódio em Suzano gerou repercussão no mundo político, e a Câmara dos Deputados encerrou sua sessão plenária desta quarta-feira em razão do massacre.
O presidente Jair Bolsonaro expressou sua solidariedade às famílias das vítimas por meio de um post no Twitter.
"Presto minhas condolências aos familiares das vítimas do desumano atentado ocorrido hoje na Escola Professor Raul Brasil, em Suzano, São Paulo. Uma monstruosidade e covardia sem tamanho. Que Deus conforte o coração de todos!"
O massacre em Suzano também intensificou o debate sobre partidários do armamento da população e defensores do desarmamento.
O senador Major Olimpio (PSL-SP) criticou o Estatuto do Desarmamento durante reunião da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa e disse que a tragédia poderia ter sido evitada se houvessem pessoas com armas regulares no local.
"Se houvesse um cidadão com uma arma regular dentro da escola, professor, um servente ou policial aposentado que trabalha lá, ele poderia ter minimizado o tamanho da tragédia", disse o parlamentar.
Já o coronel da reserva da PM de São Paulo e ex-secretário nacional de Segurança Pública, José Vicente da Silva Filho, afirmou que armar os funcionários pode gerar outras tragédias.
“Quanto mais armas existirem, mais tragédias como essas vão acontecer", disse. "Funcionários armados sem o preparo que o policial tem pode colocar ainda mais gente na linha de fogo. Pode criar outras situações de tragédia como essa. Imagina se um aluno tem um bronca com um funcionário, ou se existe um bate-boca entre aluno e professor”, avaliou.
Fonte: Laís Martins, em Suzano, e Eduardo Simões, em São Paulo; Reportagem adicional de Pedro Fonseca e Débora Moreira, no Rio de Janeiro; Leonardo Benassatto, em Suzano; e Lisandra Paraguassu, em Brasília)
A violência destrói o que ela pretende defender: a dignidade da vida, a liberdade do ser humano.
POSTADO POR: LUCIANO MELO - 14/03/2019
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