QUAL A SUA OBRA?
É muito comum ver essa ou aquela pessoa pedindo orações para atingir objetivos. As pessoas pedem um emprego, pedem a cura de uma doença, pedem uma melhor colocação profissional, pedem que suas dívidas sejam pagas, pedem que seu filho melhore, que saia das drogas, que deixe as más companhias; pedem para passar no vestibular ou num concurso público, pedem o fim da depressão, dentre outros milhares de pedidos. O ser humano parece ser um eterno pedinte do cosmos. Nunca está satisfeito…
As pessoas estão tão acostumadas a pedir coisas que muitas vezes esquecem de algo importante, de um fator fundamental em suas vidas. Esse fator é: Eu mereço isto? O que fiz de bom, de positivo, de relevante para outras pessoas ou para o mundo, com a finalidade de que isso ou aquilo me seja concedido? A maioria das pessoas costuma se perguntar: o que fiz para merecer essa doença, essa perda de emprego ou esse sofrimento? Mas quantas pessoas se perguntam: O que eu fiz para merecer essa dádiva? O que fiz de bom para merecer essa cura? Que obra benéfica deixei para o mundo que me permitiu a realização desse milagre em minha vida?
Será mesmo que devemos pedir algo para nós sem que tenhamos o devido merecimento? Muitas pessoas acreditam que Deus nos concede dádivas e milagres com base apenas em Sua bondade divina e Sua misericórdia. Segundo essa visão, muito comum nas religiões mais dogmáticas, basta que tenhamos fé e aguardemos para que a misericórdia divina nos presenteie com algo. Mas será que é assim que funciona?
Vejamos alguns exemplos. Uma mulher que perdeu sua casa porque não conseguiu pagar suas dívidas. Ela pede a Deus que a ajude, mas nada acontece. Do outro lado da cidade, um homem passa por situação semelhante: começa a perder tudo, pois foi demitido de seu emprego. Tanto um quanto outro deveriam se perguntar: Por que Deus iria ajudar a mim e não a outra pessoa? Ou ainda: Por que Deus deveria modificar essa situação e dar-me uma casa se existem milhões de pessoas desabrigadas no mundo? Por que eu deveria esperar que Deus desse a mim um emprego quando existem mais de 100 milhões de desempregados no mundo? O que tenho eu de tão especial? Por que sou melhor do que todas essas pessoas aos olhos de Deus? Por que uns nascem sob uma boa estrela e outros vivem na rua da amargura?
Vamos imaginar uma disputa de um cargo dentro de uma empresa. Um homem quer um cargo de chefia e outro homem quer o mesmo. Por que Deus deveria escolher um homem ao invés do outro homem? Se você fosse esse homem, perguntaria: o que você fiz de positivo para o mundo? Que mérito tenho? Que obra leguei a humanidade? Esse homem participa de alguma missão humanitária? Ajuda na obra divina na Terra de algum jeito?
No outro dia veio uma pessoa me pedir oração para que ela passasse num concurso público, pois estava muito mal de vida. Mas eu pergunto: quantas dezenas de milhões de pessoas existem na pobreza, até mesmo abaixo da linha da miséria? Por que Deus iria ajudar um ao invés de ajudar todos os outros? Podemos ainda questionar: Por que Deus faria essa pessoa passar num concurso público onde 100 mil pessoas querem a mesma vaga? Por que você seria beneficiado ao invés das outras 100 mil pessoas? Que mérito tem? Que obra deixou? Qual o bem que você fez no mundo?
Infelizmente o ser humano é bastante egocêntrico em seu desejo de conquistar. Ele pede que Deus o ajude, mas não pede que ajude todas as outras pessoas, pois só existem algumas vagas. “Cada um que peça para si mesmo” pensa ele. No entanto, é preciso pensar no seguinte. Se uma pessoa conquista uma vaga, a outra que disputa ficará necessariamente de fora. Por que nos julgamos tão diferentes, tão bons, tão únicos a ponto de esperar que Deus ajude uns e outros não? Alguns podem dizer: “Eu quero que Deus ajude a todos, não apenas eu”. É possível perguntar a essas pessoas: “Quantas vezes você orou a Deus pedindo o bem de um desconhecido e quantas vezes você orou pedindo apenas em causa própria?”. A resposta de 99% das pessoas será óbvia. Cada um pede apenas para si mesmo… Esse obviamente é um sintoma de uma sociedade competitiva, onde desejamos que nosso ego seja exaltado diante de todos. Mas podemos ainda questionar: por que seu ego seria exaltado e não o ego do outro? Por que você é melhor do que os outros? Não… não há melhor ou pior na vida humana. Acreditar-se melhor do que os outros nada mais é do que uma tremenda ilusão que nos conduzirá à ruína.
É certo que Deus jamais poderia beneficiar uns e marginalizar outros; jamais poderia dar a uns e esquecer dos outros; jamais poderia ter alguns poucos escolhidos e outros relegados ao “abandono cósmico”. Não… Deus é por todos. Ou como diz a máxima: o sol brilha para todos. A máxima que devemos sempre lembrar é: “Deus dá a cada um segundo suas obras”. O plano divino jamais pode ser arbitrário em suas decisões. Favorecer um e omitir-se com outro é uma atitude humana, egoica, limitada, e não uma ação divina. Por isso, é importante entender que:
“Deus dá a todos que merecem.”
O que garante nosso bem é nosso merecimento, fruto de um trabalho em prol do coletivo. O ser humano trabalha apenas para si mesmo, mas deixa em segundo plano o coletivo, a totalidade do mundo. Aqueles que realizaram uma boa obra, que edificaram os pilares do amor ao próximo, que espalharam flores ao invés de espinhos, que irradiaram paz aos que estavam em aflição, que semearam o bem sem olhar a quem, que deram amparo aos desesperados e aos deprimidos, dentre outras condutas elevadas, esses Deus poderá auxiliar. Quando sua obra é boa, quando você merece, Deus é obrigado a te dar; Deus te concede todo o bem que você já realizou, pois a vida é um eco: o que você recebe é aquilo que você criou como obra positiva no mundo. Mas se sua obra for degenerada e egoísta, você se prenderá a própria teia de negatividade e egocentrismo que teceu. Quanto mais pensamos apenas em nós mesmos, mais estamos presos e em sofrimento.
Como esperar que Deus estenda a mão a ti se você nunca estendeu a mão aqueles que sofrem? Como esperar que Deus enxugue suas lágrimas se você nunca apoiou aqueles que caem de joelhos em prantos profundos? Como esperar que Deus vá nos soerguer se você nunca deu alento aos desfavorecidos, aos carentes, aos que estavam largados e perdidos em sua própria ruína?
Aquele que nunca olhou para seu irmão em necessidade não pode esperar que Deus olhe para sua escassez; aquele que não perdoa, não pode esperar ser perdoado; aquele que não trata os outros com dignidade, não pode esperar que o cosmos venha em seu socorro; aquele que puxa o tapete do outro não pode esperar que um tapete seja estendido para si; aquele que quer tudo apenas para si mesmo não pode esperar que tudo lhe seja dado; aquele que olha apenas para seu umbigo não pode esperar que a inteligência do universo olhe para ele. Mas quando se trabalha coletivamente, compreendendo que somos não apenas cidadãos do mundo, mas seres cósmicos, nada nos falta, nada podemos perder e sempre estaremos felizes.
Aquele que dá tudo de si, esse receberá muito mais do que imagina… Não receberá coisas no mundo, dinheiro ou posses, pois tudo isso é passageiro e ilusório, mas terá paz e felicidade jamais sonhadas no Reino de Deus.
(Hugo Lapa)
POSTADO POR: LUCIANO MELO - 20/08/2017
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